Poema sugerido pela minha mãe e que no seu conteúdo foi concebido por ela.
Eu dei o contributo da estrutura e da rima.
Homenagem ao meu avô materno… Que descanse em Paz e na Luz.
Hoje toda a gente fala em crise
Mas poucos pensam no passado
E não foi assim há tanto tempo
Que se viveu na realidade este fado.
Os Pastores e os Agricultores
Analfabetos ou Sábios?
Alguém ainda se lembra deles?
Homens que dormiam no chão
O seu tecto era a noite ao luar
A sua companhia, por vezes, só o cão.
Considerados analfabetos por muitos
Mas eram sábios pelo seu valor imenso
Sabiam sempre as horas, sem relógio
A exactidão do meio-dia no terreno extenso.
Altura certa para semear
Tarefas correctas para ir cuidando
Altura certa para colher e sachar
Timing correcto para ir plantando.
Eram médicos do seu gado
Engenheiros das suas casas, com experiência
Arquitectos das suas terras e campos
Professores em sabedoria e ciência.
Eram meteorologistas sem errar
Treinadores dos seus animais
Parteiros das suas crias
E vós, ainda vos lembrais?
As novas criaturas vinham ao mundo
E estes homens nem dormiam sequer
Para verificar se tudo estava bem
E ainda iam cuidando da mulher.
Analfabetos, mas também poetas
Vejam estes versos referidos
Da veia poética dos que
Parece que foram esquecidos…
“O peixe pediu a Deus água
O mar a Deus fundura
O homem pediu inteligência
E a mulher formosura!”
Desafio:
E agora também de um homem
Muito sábio, mas que não sabia ler
Gostaria de ver da vossa parte
A quem possa saber responder:
“Se és poeta
E és poeta no cantar
Diz-me lá tu em cantiga
Quantos peixes há no mar?!
Quantos peixes há no mar,
Todos eles vão ao fundo
Diz-me também em cantiga,
Quantos homens há no mundo?!
Quantos homens há no mundo
Nem todos usam chapéu
Responde-me tu em cantiga
Quantos anjos há no céu?!
Quantos anjos há no céu
Todos eles usam coroa
Diz-me tu em cantiga
Quantas ruas tem Lisboa?!"