Poema baseado num desafio do artista plástico Nuno Blochberger sobre ruínas. Está desalinhado propositadamente, queria mostrar como ele se auto-desenhava porque a imagem dele na minha mente estava algo parecido... assim:
Acordei.
Olhei a minha volta e não encontrei…
Não encontrei o que queria
E desatei numa correria.
Não sei de onde venho
Nem sequer para onde vou
Tenho até dúvidas de quem sou...
E minha alma onde está? Será que voou?
Parei.
Passeei.
Observei.
Cada rua, cada estrada segue em paralelo
As ruas anteriores ou vindoras
De povos nossos antepassados
Talvez ou não descuidados
Onde claramante se vê
Que deixaram rastos nestas pedras da calçada.
Todas elas antigas, mas tão actuais.
Cada uma delas conta
Uma história
Uma situação
Um momento
Um marco
Uma passagem
Um retrato…
Uma tristeza, uma alegria
Uma solidão, uma companhia.
Quem passou já por aqui?
Um rico, um pobre?
Pessoa simples ou nobre?
Cada uma com o seu valor
Não importa a etnia ou a cor.
Uma rainha, um rei?
Será que não sei?
Um principe, uma princesa?
De forma impetuosa ou com delicadeza?
Fogo de uma chama apagada
Porque choveu e ninguém disse nada.
Esperem...
Calma…
Visualizo uma sombra lá ao longe
Mas não consigo perceber se é…
… um romano
… ou um árabe, quiçá
… um homem da pré-história, será?
Um misto de todos eles
A desencadear
A passar
A marcar
A contar
A nossa história
Os nossos dias de hoje
Neste momento presente
Estando nós no aqui
E no agora… ou no ausente
Ruínas de edifícios ou de memórias
Qual montanha percorrida de glórias.
Corro mais um pouco e não vejo ninguém
Um vazio cheio de nada
Trespassa-me a alma
Sinto um arrepio
Um tremer
Um calafrio
Perco-me na brevidade do momento
Deixo-me levar pela eternidade
Dos segundos marcantes
Seculares
Milenares
Que fizeram, fazem e farão história.
Ou não.
Será tudo isto em vão?
Penso.
Fico contente.
Fico triste.
O que já foi palco das vivências
Das experiências
Únicas de alguém.
Do que já foi os bastidores
De qual peça mais marcante
De criança
De adulto
De idoso
De teenager
De simplório
De caprichoso.
Uma panóplia de emoções invade-me
Invade-nos.
Tudo isso tornou-se agora ruína
Física, não-edificada
Passada, mas não perdida
Deixada, mas não esquecida.